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Budapeste, por Chico Buarque [sem spoilers][27/09/2024]

Budapeste é, provavelmente, meu livro favorito. Digo isto não apenas pela estória que me prendeu do inicio ao fim, mas como também por toda linguística e beleza contida nele.

Budapeste, livro publicado em 2003 por Francisco Buarque de Holanda -- mais conhecido como Chico Buarque --, conta sobre um autor ghost-writer chamado José Costa, que, após a suspeita d'uma bomba em seu avião, acaba conhecendo mais sobre a capital da Hungria e do idioma húngaro.

Esse livro poderia ser apenas um livro comum sobre uma aventura à la O Inocente, de Ian McEwan. Mas Budapeste, desde o princípio, mostrou-me que seria diferente, que contaria toda essa estória, às vezes confusa, labiríntica e ordinária, d'uma maneira diferente dos demais livros que contam estórias parecias. Ele teria algo essencialmente diferente, sabe?

E, felizmente, eu não poderia estar mais certo.

Nessa obra, Chico parece não querer focar muito nos conflitos mundanos desse mundo ficcional extremamente parecido com a realidade, mas sim na forma como José Costa se relaciona com as línguas que aprende adicionado a toda sua conturbada e bela literatura, escondida dos demais.

José Costa é um babaca incrivelmente bom no que faz -- ou seja: o meu tipo favorito de personagem. Considerado genial pelo sócio e amigo Álvaro, Costa escreve redações, livros, artigos, cartas e solilóquios para escritores renomados, famosos, desconhecidos e artistas quaisquer. Ele é a fonte de todo sucesso de autores best-sellers que nunca revelaram -- e nunca revelarão -- não terem escrito tal obra.

Apesar disso, José Costa não se incomoda, mas pelo contrário: sente até certo prazer em ver pessoas lendo suas obras sem saberem ser dele. É quase como um orgulhoso tímido, um brio ao contrário. Parece o tempo todo que ele deseja que as pessoas leiam suas obras, mas, introvertído do jeito que é, precisa que ninguém saiba disso, só para, dessa maneira, ele se sentir 'inda mais vaidoso para com sua arte.

Com um casamento mediocre com uma pessoa também incrível, José Costa se mete em situações que a princípio parecem confusas e esquizofrênicas, só para no final o livro nos mostrar que, sim, essas situações foram confusas e esquizofrênicas, e é isso que torna o livro incrível.

Budapeste me impressinou também com o jeito que ele descreve cenários e linguística. Parece que você se afunda junto ao personagem e parece que você aprende o idioma húngaro junto a ele. É um livro delicioso para quem gosta e é um entusiasta de linguística, e também para aqueles que amam qualquer aspecto da gramática de quaisquer línguas.

Budapeste parece -- e tenho praticamente certeza que ele é -- uma carta de amor à linguística d'um modo geral.

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