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De Todos os Males, o Melhor que Poderia Acontecer [EN][PT-BR][10/06/2024]

Another random story from a random context.

This text was written as a school essay; apparently, the teacher's goal was to encourage the students to create something by their own, since there was no theme or rule -- we only needed to write. Although the cool attempt, most of the class ended up just copying and pasting from ChatGPT.

Otherwise, an artistically inclined friend -- I'll call him that since I don't have his permission to share his name here -- and I got interested and we decided to create our own stories and put a minimal effort to this specific activity -- let's say we're a little tired of school.

In the end, he wrote a fantastic story about a Venezuelan girl who explores her dreams, while I wrote this story about a drunk guy who goes to pee. Amazing constrast, isn't it? I simply love our friendship.

Oh! And an important note to do: the title "De Todos os Males, o Melhor que Poderia Acontecer" is stolen from a song of Gabriel Orling! I love his songs and wanted to do a reference.

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Mesmo 'num calor insuportável d'um país tropical, todos os garotos no baile -- me incluindo nessa lista -- insistiam em ternos de tecido grosso com gravatas d'um tecido ainda mais grosso; gravatas essas que tinham sempre a mesma cor azul-turquesa horrível -- eu as odiava plenamente, sempre preferi as de cor sólida comum, sem estampa ou qualquer tipo de barrocagem inútil. No fim, eu não ligava muito: continuava sentado, quase como arrogante, 'numa dessas mesas que estão sempre longe da pista de dança. Também aproveitava para tomar um desses drinks alcoólicos que só adolescentes têm coragem o suficiente para beber. Ó!, tão medíocres e mesquinhos esses adolescentes!, eu resmungava, mesquinho e medíocre.

Tentava observar as pessoas, quase com'um repórter tímido: mesmo após horas de festa, todos continuavam a teimar em rodar no centro do salão iluminado apenas por algumas pequenas lâmpadas no teto alto. As garotas, com seus vestidos rendados e às vezes até bordados, brincavam de mexer enquanto penduradas nos braços dos parceiros muitas das vezes exageradamente mais altos. Àquela hora, as bexigas 'inda tentavam se manter sob e sobre as filetas de ar onipresente; já os confetes coloridos: nem se falava mais deles, talvez por estarem ocupados demais sendo pisoteados pelos saltos das moças e pelos sapatos-tênis terríveis dos rapazes -- eu gostava de criticá-los até perceber que, por causa de mamãe, também usava sapatos-tênis.

A realidade voltou a mim quand'um amigo -- de quem o nome eu nunca nem descobri qual era -- chegou me perguntando se'u queria rodar. Eu não tinha parceira, muito menos vontade p'ra dançar, mas, talvez por efeito d'álcool, apenas levantei e acompanhei-o até a pista.

Já no centro, alguns casais iam embora, cansados e suados, mas verdadeiramente felizes; alguns outros 'inda remexiam os corpos com ardor de começo de festa -- talvez pensassem que duraria eternamente. Eu, por minha vez, seguia estático atrás do meu amigo, que'ssa hora tentava paquerar uma das garotas também sem companhia. Não tinha muito que'u fazer; a única garota que'u tinh'interesse dançava com outro rapaz de quem eu nunca ouvi falar sobre.

Vanessa era morena, de vestid'amarelo com bolinhas brancas, sorridente de sorriso perfeitamente ordinário, d'um cabelo crespo tão bonito que chegava a ser injusto comparar com outros ali. Já ele: louro, cabelos cacheados, mais alto e mais bem-encorpado que eu.

Os dois pareciam se contentar em rir p'r'o nada, felizes, cientes apenas do próprio mundo.

Quando menos percebi -- afinal, eu estava bêbado --, encontrei-me sozinh'ali no meio -- meu amigo conseguira levar a garota par'um dos quartos privados do salão e provavelment'estavam, como qualquer outra pessoa de nossa idade, se divertindo juntos. A bebida me deixara tão grogue que'u mal conseguia diferenciar as pessoas das luzes coloridas da festa; minhas pernas bambeavam e meus olhos, cerrados, tentavam identificar o que raios havi'um palmo a frente. Talvez eu estivesse realmente preso em alguma dimensão paralela onde luzes dançavam sem o menor porquê.

Após um tempo que nem mesmo sóbr'eu poderia contar, o DJ gritou a tod'os pulmões que haveri'uma troca de casais para's próximas danças. Assim, sem nem mesmo ter processado o que'l'avia falado, percebi-me dançando com uma garota do qual o rosto parecia janel'enodoada ou furacão tranquilo.

Aos poucos, como cartógrafo descobrind'um mundo, fui localizando suas feições, reconhecendo-a, ao fim, como desconhecida. Sorria como se não houvesse problemas no mundo, como se gostasse de fazer o que fazia. E, apesar disso, ignorei-a para sondar a procura de Vanessa, qu'agora dançava com o que pareci'uma criança -- ou er'um anão? Não importava de fato! Como todo bêbado, ganhei dose de adrenalina e agor'eu, falsamente corajoso, queria rodar com ela!

"Trocando!", o DJ gritou e, como em jogo de mestre mandou, todos obedeceram sem reclamar.

Embor'eu tenha sentid'a sensação de ter corrido, tenho certeza qu'eu simplesmente soltei das mãos d'outra moça e, cambaleando, caminhei em direção a Vanessa, estendendo-a a mão, sem lhe oferecer palavra alguma. Ela, então, sem nem hesitar, aceitou e, sem o menor porquê, começamos a rodar ao ritmo d'uma música chata de balada. Mesmo com a minha presença, ela continuava a sorrir, quase como se divertisse com coisa qualquer ali.

Eu não falava nada, apenas fitava seus olhos pestanejantes de maneira que os meus ficassem acorrentados aos dela. Durante distrações, ela parecia não me perceber, assistindo às danças dos outros através do meu corpo. Minhas pernas, bambas, não me permitiam movimentos bruscos, então eu acabava por girá-la de maneira devagar e quas'esquizofrênica, provavelment'entediando-a no processo. Mas, pelo menos, dos rápidos giros, eu recebi'um belo vislumbre dos traços gentis de seu rosto. E, quando dessa meneir'eu poderia vê-la, sentia sentir sentimento de confusão, mas também d'algo como calma e tranquilidade. Talvez esse sentimento se resumisse a vonta'd'esquecer-se como se respira, só par'então, nos poucos minutos de vida que me restarem, eu ter de reaprender de novo e de novo junto daquela garota -- sentido, afinal, eu não precisav'ali, pois toda razão, de forma ridícula e adolescente, eu vi'em Vanessa.

O DJ mandou trocarmos novamente os casais e assim, sem mais nem menos, a Vanessa já dançava com outra pessoa. Fiquei tão atônito que nem mesm'abaixei as mãos da posição comum às valsas. Estático assim continuei até a adrenalina baixar, pois ninguém mais viera dançar comigo.

De repente, quase simultaneamente, como se espirit'eu fosse e voltasse ao meu corpo e o álcool descesse à bexiga, senti uma tremenda vontade de mijar. Estava tão bêbado que nem vi o banheiro do salão log'ao lado: só passei por ele e fui urinar lá fora.

Minha bexiga já gritava em agonia, 'numas notas tão quebradas quanto completamente desafinadas. Estava tão apertado que mal procurei lugar adequado: só abri o cinto junto à braguilha e urinei em qualquer canto. Terminado, balancei, levantei a calça e fechei o cinto -- infelizmente esquecendo a braguilha aberta; me arrependeria mais tarde ao encontrar com amigos. Olhando a paisagem, pensei, sorrindo estranhamente, qu'esqueceria de tudo o que aconteceu ali. Assim confirmei o nada, ri de minha idiotice e, aos tropeços, voltei ao salão.

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